Na sociedade
local irradiam por vezes opiniões que comprometem os municípios na resolução de
problemas em áreas que são efetivamente da responsabilidade dos governos.
Algumas
razões podem-se apontar. Desconhecimento das competências atribuídas aos
municípios ou tacticismo do foro da política partidária.
Desta maneira,
assacam-se responsabilidades ao poder local e semeiam-se ilusões perigosas
junto de cidadãos e comunidades.
A realidade é substancialmente diferente. Vejamos
duas áreas vitais da governação. A resolução
dos anseios das populações nas áreas
do desenvolvimento económico (instalação de novas empresas, lançamento de
novos negócios, criação de riqueza e emprego) e do social (salário mínimo, rendimentos das famílias, pensões,
reformas e outras prestações sociais, acesso à saúde, habitação e educação,
erradicação da pobreza e exclusão social), depende
do sucesso das políticas públicas formuladas e promovidas a nível governamental,
e do estado geral da economia e do país.
Constitucionalmente, é obrigação da
administração central, salvaguardar e defender o Estado Social e as funções
sociais do Estado, nos domínios da saúde, educação e segurança social.
Numa
visão necessariamente redutora, cabe aos governos estabelecer estratégias,
medidas e programas de investimento, alocar meios e recursos, visando o
desenvolvimento económico e social do país, fazendo uso dos instrumentos de
política em que ainda detêm soberania limitada (orçamental, fiscal), e defendendo
os interesses nacionais junto das instituições europeias e dos credores.
Estimativas
credíveis apontam para que a administração local, exerça competências que não
são suas, num valor anual, superior aos 400
milhões de euros, sendo igualmente de salientar que relativamente às
competências próprias, os municípios são prejudicados com o reiterado
incumprimento da Lei das Finanças Locais cujo acumulado ultrapassa os 2 mil
milhões de euros ou o contributo coercivo para o chamado Fundo de Apoio
Municipal.
Nas competências descentralizadas verifica-se que a transferência de
meios não compensa a despesa realizada. No Município de Silves verifica-se a
realização de investimento e despesa fora das suas estritas competências, e
noutras situações, acima do contratualizado com a administração central.
Na área social, com a comparticipação
de passes escolares (cursos profissionais) e passes de jovens deficientes, o
apoio a pessoas em situação de vulnerabilidade, o projeto de intervenção social
e apoio ao aluno e à família, o apoio a imigrantes e desempregados, os serviços
prestados pela unidade móvel de saúde, os transportes de apoio à comunidade,
etc.
O regulamento de apoios sociais que aguarda a sua entrada em vigor, permitirá,
segundo a autarquia, a atribuição de um conjunto alargado de comparticipações
em domínios como rendas de habitação, obras de conservação, beneficiação e/ou
reabilitação de habitação, tarifário da água e saneamento, saúde, cidadãos com
deficiência (saúde, medicamentos, educação, transporte), etc.
No setor
da educação com o assinalável investimento que o Município de Silves realiza
nas escolas, bem acima das transferências operadas pelo Ministério da Educação,
com especial relevo, nas EB 2,3 do concelho, cujos contratos, assinados em mandato
autárquico anterior, são manifestamente lesivos dos interesses da autarquia. A
substituição do amianto em três escolas do concelho (JI de Silves, EB1 do
Enxerim e de Alcantarilha), num valor que ascendeu aos 71 mil euros, é outro
bom exemplo.
No campo do IMI familiar (imposto municipal sobre
imóveis) com a redução de taxas às famílias com 1, 2 ou 3 dependentes.
Os
exemplos estender-se-iam à cultura, património, desporto … onde o município se
substitui aos governos em diversas medidas que toma.
Não desvalorizando a
vontade genuína dos autarcas na resolução dos problemas das populações, nem a
justeza e pertinência das opções adotadas, substituindo-se à administração
central, dado o conhecimento e a grande proximidade do poder local às pessoas, a
meu ver, é fundamental clarificar e combater a ilusão, de que questões centrais
como a pobreza, a exclusão social, o acesso à saúde, o direito à habitação ou o
desemprego, podem ser solucionadas por intermédio das políticas e medidas do
poder autárquico … na melhor das hipóteses, podem e devem ser mitigadas,
localmente, como realmente já acontece.
Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de novembro de 2016
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