quarta-feira, 18 de junho de 2014

Mau da Fita



Assistimos de novo à vitimização do governo de Passos Coelho e Paulo Portas às mãos do Tribunal Constitucional (TC) que chumbou três normas do orçamento de Estado para 2014 relativas a cortes salariais, redução de pensões de sobrevivência e cortes nos subsídios de desemprego e doença, crimes de lesa-majestade

A dramatização acontece pelo terceiro ano consecutivo, sendo a coligação de direita useira e vezeira no desrespeito pela Lei Fundamental que jurou cumprir no ato da sua tomada de posse. 

É estranho que os campeões da democracia e do Estado de Direito que consagrou, histórica e justamente, a divisão dos poderes executivo, legislativo e judicial, representando o mesmo um avanço civilizacional, venham agora defender que a Constituição da República Portuguesa se deva submeter às violentas políticas de austeridade e medidas do governo, e não ao contrário. 

Passos Coelho passou-se completamente das estribeiras, ultrapassando os limites da decência, ao afirmar que a questão já não está na existência do TC mas sim na sua composição, perorando que é necessário escolher melhor os juízes. 

Talvez uns clones do Miguel Relvas resolvessem os seus problemas a contento! É preciso recordar que 10 dos 13 juízes do TC foram escolhidos pela Assembleia da República através de um acordo PSD, CDS e PS, bloco central de interesses no seu melhor, afastando-se qualquer hipótese de se reunirem no seu seio, perigosos elementos esquerdistas. 

O teor do acórdão do TC era esperado face às decisões dos três anos transatos. A verdadeira questão está em que o governo precisa de encontrar um álibi para o fracasso das políticas fundamentalistas de redobrada e contínua austeridade sobre as vítimas do costume - o mundo do trabalho, especialmente, a função pública, os reformados e pensionistas. 

A verdadeira questão está em que o governo precisa de justificar o incumprimento ao longo dos últimos três anos das metas orçamentais previamente acordadas com a troika, a sustentabilidade da diminuição da despesa pública e a redução da dívida pública. 

Tudo se agrava, mas a receita persiste, teimosamente, a mesma. O TC não faz mais do que fazer valer as suas prerrogativas, ou seja, impor o cumprimento da Constituição, a Lei das Leis. 

A coligação PSD/CDS não pode acusar o TC de incoerência e judicialização da vida política portuguesa. 

A estatística das suas decisões comprovam que nos últimos três anos, viabilizou cortes propostos pelo governo na ordem dos 7,7 mil milhões de euros, e inviabilizou, somente, 1,7 mil milhões de euros. 

A encenação mediática dos líderes da coligação de direita esbarra também no valor dos cortes, cerca de 750 milhões de euros, quando no orçamento de Estado para 2014, a Dotação Provisional e a Reserva Orçamental dos Serviços, valores que servem para cobrir desvios e imprevistos, somam 910 milhões de euros (Fonte: Unidade Técnica de Apoio Orçamental). 

O apego doentio e dogmático às virtudes da austeridade e a submissão aos credores, conduzirão provavelmente o governo a repetir a modalidade dos cortes salariais iniciada por José Sócrates em 2011 – aplicação de taxas de 2,5% a 10% a partir dos 1500,00 euros brutos -, acompanhada ou não, de novo acréscimo ao “enorme aumento dos impostos” decretado por Vítor Gaspar para 2013. 

As famosas reformas estruturais de que tanto se fala, resumem-se simplesmente a cortes salariais, cortes de pensões, aumento de impostos e liquidação gradual das funções sociais do Estado nas áreas da saúde, educação e segurança social, ou seja, a destruição dos alicerces do chamado Estado Social, e a aposta não assumida, para inglês ver, da política de baixos salários. 

Neste contexto de pobreza de criatividade e inovação, sempre a apontar aos mesmos alvos, é fácil governar. Até quando o povo aguentará?

Apostila – Eleições europeias. Derrota histórica da direita. Vitória não histórica do PS. Crise em aberto e ao rubro no partido de Mário Soares. Adivinha-se nova liderança com António Costa. Nesta eventualidade, aconselham-se caldos de galinha e precaução aos futuros eleitores, porque o novo D. Sebastião, apresentar-se-á com embalagem mais apelativa para atrair o povo de esquerda, mas lá no fundo, as soluções para o país não se afastarão das atuais, como tem sido timbre nos governos do PS que há muito meteu o socialismo na gaveta.

Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Junho/2014

Sem comentários: