Avizinham-se as
eleições para o Parlamento Europeu que se realizam no próximo dia 25 de Maio. A
coligação de direita difunde uma nuvem de propaganda e retórica, não resistindo
à encenação de promessas eleitoralistas, com base em medidas dúbias e
contraditórias.
Já lá vai o tempo em que Passos Coelho declarava não dar
importância às eleições, a pretexto de salvar o país. Os atos eleitorais aproximam-se
com o final do mandato. Eleições europeias à porta, eleições para a Assembleia
da República no próximo ano, tornando-se necessário arrebanhar votos e segurar
as rédeas do poder.
O Documento de Estratégia Orçamental/DEO (2014-2018)
exigido pela troika para terminar a última avaliação do programa de resgate,
transformou-se num documento de estratégia eleitoral, contendo intenções vagas e
não credíveis.
Anuncia-se o fim da austeridade mas ela prosseguirá com a troika
que na realidade permanecerá entre nós e ditará as regras da governação.
Mentiu-se
mais uma vez, afirmando numa semana que os impostos não subiriam mas na semana
seguinte o IVA já sobe 0,25 pontos e a taxa social única 0,2 pontos que acumulará
com mais descontos dos funcionários públicos para a ADSE (1%).
Promete-se a
anulação dos cortes salariais da função pública à média de 20% ao ano, a partir
de 2015. Acena-se vagamente com o descongelamento das progressões e promoções
na função pública. Defendeu-se perante o Tribunal Constitucional que os cortes
salariais seriam transitórios, mas o DEO introduz a tabela remuneratória única
na função pública e a tabela única de suplementos, omitindo que a medida
servirá para transformar os cortes em definitivos.
Portanto, nada de novo no horizonte da política caseira e do estado de
coisas português.
A austeridade veio para ficar (Cavaco Silva fala em mais
20 anos!), e o empobrecimento é o desígnio nacional de Passos Coelho e do seu
grupo. Parafraseando Pacheco Pereira (intelectual, militante do PSD), o drama
maior não está na receita imposta pela troika mas na convicção dos próprios
governantes de que a estratégia adotada é mesmo a única para a resolução dos
problemas estruturais do país.
Que importa a estes senhores que ao fim de três
anos de brutal austeridade tudo se tenha agravado? O PIB ao nível do ano 2000,
investimento ao nível dos anos 80 do século passado, metas do défice orçamental
incumpridas, dívida pública astronómica e impagável, 2,5 milhões de portugueses
em situação de pobreza ou em risco de pobreza, desemprego gigante, emigração
maciça, etc.
Em período
pré-eleitoral, emerge um dos dramas maiores da política portuguesa - a questão
da alternativa à coligação de direita (não confundir com alternância).
No
período pós revolução de Abril de 1974 não temos assistido a outro filme,
senão, ao rotativismo entre dois Partidos siameses, PS e PSD, acompanhados ou
não pelo CDS a servir de muleta, que no essencial, prosseguem a mesma
trajetória e políticas idênticas.
O PS
há muito que meteu o socialismo na gaveta. Lembremos os governos de
Sócrates. Lembremos os tempos de corrupção e autoritarismo, as parcerias
público-privadas e o programa de privatizações, Maria de Lurdes Rodrigues e a
gigantesca manifestação de professores em Lisboa, os Mega Agrupamentos, Correia
de Campos e as concentrações das populações país fora contra os encerramentos
dos serviços de saúde, as taxas moderadoras.
Lembremos os cortes salariais, os
retrocessos nas leis do trabalho, os PEC sucessivos e a austeridade, o pedido e
a assinatura do chamado Memorando de Entendimento com a troika, a aprovação do
Tratado Orçamental que nos amarra à austeridade permanente, etc.
É preciso ter a memória viva. Para
mais, no plano internacional, o PS de Hollande ou o PSD alemão, fonte de
inspiração do PS português, demonstram a capitulação dos socialistas europeus
perante o neoliberalismo e Ângela Merkel.
O PSD defende a “austeridade
expansionista”, o PS defende a “austeridade inteligente”.
Ambos se preparam
para dar o nó e juntar os trapinhos, no altar do bloco central, a bem da pátria
e da nação. Na verdade, “O PS é uma
tragédia!(…) As pessoas já perceberam que o PS não é alternativa e que se for
governo não fará muito diferente.” (António Pedro de Vasconcelos, cineasta, Jornal I, 24.04.14).
Em democracia, embora, doente e vilipendiada, cabe ao povo decidir. Mas que
esta gente merecia um cartão vermelho, lá isso, merecia.
Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Maio/2014
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