Há quatro anos, em
período pré-eleitoral, Passos Coelho prometeu, caso fosse nomeado
primeiro-ministro, que não aumentaria impostos, nem realizaria cortes nos
salários e pensões, e muito menos, sonegaria o subsídio de natal ou o subsídio
de férias aos portugueses.
O aumento da receita pública, salientava o
candidato, resolver-se-ia com o alargamento da base tributária e os cortes nas
gorduras do Estado, os chamados consumos intermédios. O seu antecessor, José
Sócrates fez o mesmo.
Um e outro, PS e PSD, alcançado o poder, fizeram
exatamente o contrário daquilo que prometeram. José Sócrates prometeu a criação
de 150 mil postos de trabalho.
O candidato António Costa promete, perdão,
estima em resultado da aplicação das suas políticas, a criação de 207 mil empregos!
O país tem sido governado nos últimos 39 anos em regime de alternância pelos
partidos integrantes do bloco central de interesses (PS, PSD e CDS), separados
ou coligados, e a só a eles, devem ser assacadas responsabilidades pelo estado
deprimente e a encruzilhada a que Portugal chegou.
Que os cidadãos se cuidem com a desvergonha e a demagogia em estado
bruto dos algozes que em tempo de governação revelaram gélida indiferença pelo
país e pelas pessoas.
Os últimos 4 anos de
governação sob protetorado alemão em consequência do programa de resgate da
troika, autêntico pacto de agressão (União Europeia, Banco Central Europeu e
Fundo Monetário Internacional), assinado por aqueles três partidos, lançaram o
país na profunda recessão, levando à destruição da economia, à insolvência de
dezenas de milhares de empresas, ao desemprego maciço, a vagas de emigração só
comparáveis com os tempos de Salazar, ao alastramento da pobreza e
empobrecimento generalizado, à liquidação da classe média e deterioração
acentuada das funções sociais do Estado (segurança social, saúde e educação),
através de doses redobradas de austeridade assimétrica, colossal aumento de
impostos e selváticos cortes de salários e pensões com especial incidência na
função pública e demais trabalhadores…sem que os objetivos proclamados fossem
alcançados, quer no controlo do défice do orçamento de Estado, ainda acima dos
3% do PIB apesar da brutalidade dos sacrifícios (inúteis) quer no controlo da
dívida pública que é impagável, atinge números astronómicos e suga a riqueza
nacional por via do pagamento de juros agiotas.
A lamentável semelhança entre
PS e PSD, irmãos siameses (Nuno
Melo, do CDS, noutro tempo, apelidou-os de 6 e meia-dúzia), que se diferenciam
nos detalhes, ritmos e intensidade das suas políticas, altamente comprometidos
com a entrada e desgraça do Euro, o Tratado Orçamental, a não renegociação da
dívida pública na ótica do interesse nacional, as parcerias público-privadas
(PPP), as privatizações, os ataques ao serviço nacional de saúde, aos
professores e à escola pública, a promiscuidade e subordinação aos grandes
grupos económicos, etc., é um dos dramas maiores da democracia portuguesa e um
desafio para o eleitorado enfrentar – permanecer ou sair do pântano.
Não basta acusar que os políticos e os
partidos são todos iguais, mas quando chega a hora do voto, a verdade é que votam sempre nos
mesmos.
Nestas eleições legislativas assistimos novamente às posições de
largas faixas de preopinantes que deturpam a natureza do voto, espalhando aos
quatro ventos que ao eleitorado cabe escolher o primeiro-ministro, quando na
verdade, os portugueses elegem deputados à Assembleia da República (AR).
A
rábula é tão perversa quanto contraditória com o ideário da corrente dominante
que não se cansa de defender a alteração da Lei Eleitoral (eliminando a
representação proporcional) com vista à criação de círculos uninominais e à
suposta aproximação dos eleitos aos eleitores, conferindo um caráter local à
escolha do deputado.
O Algarve elege 9
deputados. É bom que os algarvios tomem conhecimento do balanço da sua ação
durante a legislatura que termina e do posicionamento de cada um relativamente
aos problemas da região (e do país).
As portagens da Via do Infante criadas e
mantidas pela teimosia da maioria governamental com a conivência do partido da
rosa que prejudicam fortemente o turismo e a economia regionais, aumentam a
sinistralidade da EN 125 (falsa alternativa) e alimentam mais um negócio
ruinoso em sede de PPP, são exemplo a reter.
Em termos de balanço do trabalho
na Assembleia da República, o deputado Paulo Sá (CDU), a meu ver, foi o porta-voz
mais qualificado da região pela qualidade das suas intervenções no hemiciclo e
nas comissões parlamentares, bem como pela apresentação de projetos de
resolução, formulação de perguntas e requerimentos ao governo, e pelas constantes
visitas de trabalho aos diversos cantos do Algarve.
É precisamente para isso
que a população elege os seus deputados, e é desta maneira, que se dignifica a
política e se promove a aproximação entre eleito e eleitor.
Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de setembro de 2015
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