sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Orçamento de Estado/2014 – um passo de gigante rumo ao empobrecimento



O orçamento de Estado para 2014 (OE2014) repete de forma acentuadamente agravada as medidas de austeridade dos últimos três anos que, contrariamente ao pretendido, não alcançaram as metas estabelecidas para o défice orçamental e a dívida pública que não param  de derrapar e subir, permanecendo o país, distante da chegada autónoma aos incensados mercados financeiros para efeitos de financiamento da economia e do Estado - o “alfa e ómega” dos objetivos governamentais. 

Há já quem fale de um segundo resgate, a título de chantagem sobre os portugueses e o Tribunal Constitucional, para justificar a necessidade e a desumanidade das medidas, ou de saída supostamente mais suave, um programa cautelar que, grosso modo, significará o aval europeu no acesso de Portugal ao financiamento externo, acompanhado, porém, da imposição de novos programas de austeridade. 

Perante o fracasso continuado na realização dos objetivos traçados que ao longo de cada ano vão sendo conjunturalmente alterados (orçamentos retificativos), o bom senso imporia mudar de políticas e de receitas. 

Mas não. Em vez do abandono da terapia de choque, da alteração da natureza e trajetória das políticas, insiste-se, teimosamente, no mesmo caminho, replicando a prática médica medieval de sangrar o doente … até morrer. 

Repete-se maliciosamente até à exaustão que não existem soluções alternativas e que os sacrifícios são justamente repartidos pela generalidade dos portugueses, sem distinção de classes sociais.  

O que o comum do cidadão constata é coisa bem diferente: o aumento bárbaro dos impostos e os cortes selváticos de rendimentos, incidem, sobretudo, e em larga escala, sobre o fator trabalho. 

 No conjunto das medidas de consolidação orçamental, 82% respeitam a cortes, cortes nos salários, nas pensões e despedimentos na função pública. 

Apenas 4% incidem sobre a banca e o setor energético. Os encargos com as parcerias público-privadas aumentam 89% em 2014 - mais 1600 milhões de euros! 

O Estado Social, conquista civilizacional de gerações sucessivas, incorpora o principal capítulo do programa ideológico neoliberal, que vê no seu desmantelamento e destruição, a solução para o reequilíbrio das contas públicas, e o caminho para o livre funcionamento do mercado (mão invisível) que conduzirá ao crescimento e à prosperidade. 

É falacioso e imensamente desumano classificar como reforma do Estado, o corte de salários e pensões, e a redução de despesas com a educação, saúde e segurança social, cujos valores atingem os 3,9 mil milhões de euros que se somarão a 1,7 mil milhões de euros em 2015, sabendo-se pela prática recente que nada disto é fiável e definitivo. 

(É demonstrativo dos objetivos ideológicos do governo verificar no OE2014 o aumento de 2 milhões de euros no já elevado financiamento do ensino privado que contrasta com o corte global no setor Educação – 467 milhões de euros!)  

O que se pretende realmente é reconfigurar a economia e a sociedade portuguesas de maneira que o trabalho se reduza à sua condição de mercadoria barata e descartável, e atribuir valor nulo aos direitos sociais, sujeitando-os a considerações financeiras.  

Com medidas austeritárias do corrente quilate, com  tremendo impacto recessivo na vida das famílias e no desenrolar da atividade empresarial, não passa de ilusão, fixar como meta para 2014, a retoma do crescimento económico (0,8%) que assenta nos pressupostos falsos do crescimento do consumo privado e do investimento. 

O aumento do desemprego previsto pelo governo (17,7%), a par do aumento da emigração também previsto, ou os atuais níveis de endividamento de famílias e empresas, encarregam-se de negar tal possibilidade. 

Com  o  país e a Europa nas mãos da  mediocridade e do fanatismo, e a política, submetida ao poder financeiro, resta ao mundo do trabalho e ao povo português sublevarem-se e dizerem “não” ao atual estado de podridão.


ApostilaA primeira reunião de câmara da autarquia silvense no novo mandato ficou  marcada pelo voto contrário da oposição (PSD/PS) ao propósito da Maioria CDU de realizar excecionalmente a Feira de Todos os Santos/Feira Anual (cidade de Silves)  no formato de feira franca, com base no valor  incomportável das taxas fixadas  para os feirantes. 

Estas taxas foram viabilizadas, precisamente, por aqueles dois partidos. Nos anos de 2009 e 2010, o evento realizou-se como feira franca, e  mereceu  na altura, a aprovação unânime do executivo municipal. 

Daí, a perplexidade pela tomada de decisão. A bem da população do concelho de Silves, aguarda-se que o episódio se tenha resumido a um  mau momento dos protagonistas. 

Queremos crer que a oposição se afirmará pela positiva e clareza de propósitos, colocando os interesses da autarquia e da comunidade acima dos interesses partidários, declinando atitudes de natureza revanchista e punitiva.


Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Novembro/2013

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