A aplicação do modelo de avaliação do desempenho dos professores ameaça reactivar a indignação e o apodrecimento do ambiente nas escolas portuguesas, porque o carácter brutalmente burocrático e irrealista do mesmo, torna-o dificilmente exequível, representa forte factor de degradação das relações inter-docentes, e provoca desperdício espantoso de tempo para avaliados e avaliadores, que se deviam concentrar, sobretudo, no trabalho com os alunos.
Para os mais cépticos e desligados da realidade nas escolas, que supostamente julgarão que - afinal, o que os professores pretendem, é não ser avaliados -, basta que concentrem a sua atenção no impressionante emaranhado burocrático do modelo de avaliação que envolve a apreciação de quatro dimensões de actuação dos docentes (vertente profissional, social e ética; desenvolvimento do ensino e da aprendizagem; participação na escola e relação com a comunidade educativa; desenvolvimento e formação profissional ao longo da vida), desdobradas em 11 domínios.
Estes 11 domínios dividem-se, por sua vez, em 39 indicadores, reportados a cinco níveis, cada um deles com múltiplos descritores que se cifram em 72. Em síntese, a contabilidade final do enredo regista: 4 dimensões, 11 domínios, 5 níveis, 39 indicadores e 72 descritores!!!
Acresce ainda que cada escola produz documentos para operacionalizar todo este complexo processo. E no fim há que contar também com o relatório de auto-avaliação do professor (elaborado de dois em dois anos) que se divide em 6 partes, uma das quais se subdivide em mais duas.
Neste relatório o docente tem de realizar um auto-diagnóstico a incidir sobre cada um dos quatro domínios da avaliação, descrever a actividade profissional desenvolvida, revelar o seu contributo para a prossecução dos objectivos e metas da escola, fazer análise pessoal do trabalho desenvolvido, mostrar que fez formação contínua e identificar as suas necessidades de formação.
“O modelo de avaliação do desempenho dos professores é tecnicamente uma nulidade e politicamente um desastre. Introduziu nas escolas tarefas burocráticas e administrativas que representam, estimo, 40% do tempo activo dos docentes … só a observação de aulas significa o sacrifício de um grande número de horários completos dos professores eventualmente mais qualificados.” (Santana Castilho, Jornal “Público”, 16Fev2011)
A complexidade da actividade docente não é compatível com a natureza do actual modelo de avaliação. Os avaliadores - que não receberam qualquer tipo de formação -, estão impossibilitados de avaliar com critério e rigor, diferenciar e graduar os níveis de desempenho de cada professor, em virtude de muitos dos chamados descritores cuja formulação é vaga e subjectiva, não permitir medir/quantificar com objectividade e precisão.
O modelo de avaliação do desempenho dos professores está a léguas de contribuir quer para a melhoria da sua acção educativa e formativa quer para a melhoria do ensino e da aprendizagem dos alunos que pressupõe clima de cooperação e inter-ajuda quer em última análise para a distinção do mérito inter-pares. Sejamos crus e directos.
O presente modelo de avaliação serve de facto para limitar e impedir a progressão dos professores no quadro da respectiva carreira. A definição de quotas para as notas de Muito Bom e Excelente, e o acesso restrito a alguns escalões, vai nesse sentido.
Contudo, bastava algum pragmatismo, e evitar-se-ia tanta confusão nas escolas para atingir tão “nobre” propósito. Simplesmente, congelavam a progressão na carreira docente. Aliás, a tutela (Ministério das Finanças?!) já o fez, e os professores já estão habituados! Passe a ironia.
A educação, outrora considerada verdadeiro desígnio do país e factor primordial para a obtenção de patamares superiores de desenvolvimento económico e social, foi apanhada pelo turbilhão e tresloucadas aventuras do capital financeiro, pela ditadura dos mercados e dogmatismo das políticas neoliberais cujos governantes nacionais e europeus nos vêm impondo (sem cuidarem de saber quais as causas da crise), que conduziram à desregulamentação da economia e da sociedade, e aos défices externos e orçamentais.
E é aqui que se localiza o cerne da questão. O que vale não é a vertente pedagógica, a aquisição de saberes e competências, e o real sucesso educativo, conforme determina a Lei de Bases do Sistema Educativo, mas ao invés, critérios de ordem economicista e contenção de custos a todo o gás, nem que para tal, se progrida na destruição da qualidade do ensino e da Escola Pública.
Se ao modelo de avaliação do desempenho dos professores, adicionarmos cortes nas remunerações e congelamento da progressão na carreira, agravamento da carga horária semanal e das condições de trabalho, criação de mastodontes vulgo mega-agrupamentos, o garrote que aperta a organização do próximo ano lectivo e a escassez de recursos humanos, vamos ter um caldo de condimentos, propício ao estalar da indignação e da conflitualidade nas escolas portuguesas.
Para os mais cépticos e desligados da realidade nas escolas, que supostamente julgarão que - afinal, o que os professores pretendem, é não ser avaliados -, basta que concentrem a sua atenção no impressionante emaranhado burocrático do modelo de avaliação que envolve a apreciação de quatro dimensões de actuação dos docentes (vertente profissional, social e ética; desenvolvimento do ensino e da aprendizagem; participação na escola e relação com a comunidade educativa; desenvolvimento e formação profissional ao longo da vida), desdobradas em 11 domínios.
Estes 11 domínios dividem-se, por sua vez, em 39 indicadores, reportados a cinco níveis, cada um deles com múltiplos descritores que se cifram em 72. Em síntese, a contabilidade final do enredo regista: 4 dimensões, 11 domínios, 5 níveis, 39 indicadores e 72 descritores!!!
Acresce ainda que cada escola produz documentos para operacionalizar todo este complexo processo. E no fim há que contar também com o relatório de auto-avaliação do professor (elaborado de dois em dois anos) que se divide em 6 partes, uma das quais se subdivide em mais duas.
Neste relatório o docente tem de realizar um auto-diagnóstico a incidir sobre cada um dos quatro domínios da avaliação, descrever a actividade profissional desenvolvida, revelar o seu contributo para a prossecução dos objectivos e metas da escola, fazer análise pessoal do trabalho desenvolvido, mostrar que fez formação contínua e identificar as suas necessidades de formação.
“O modelo de avaliação do desempenho dos professores é tecnicamente uma nulidade e politicamente um desastre. Introduziu nas escolas tarefas burocráticas e administrativas que representam, estimo, 40% do tempo activo dos docentes … só a observação de aulas significa o sacrifício de um grande número de horários completos dos professores eventualmente mais qualificados.” (Santana Castilho, Jornal “Público”, 16Fev2011)
A complexidade da actividade docente não é compatível com a natureza do actual modelo de avaliação. Os avaliadores - que não receberam qualquer tipo de formação -, estão impossibilitados de avaliar com critério e rigor, diferenciar e graduar os níveis de desempenho de cada professor, em virtude de muitos dos chamados descritores cuja formulação é vaga e subjectiva, não permitir medir/quantificar com objectividade e precisão.
O modelo de avaliação do desempenho dos professores está a léguas de contribuir quer para a melhoria da sua acção educativa e formativa quer para a melhoria do ensino e da aprendizagem dos alunos que pressupõe clima de cooperação e inter-ajuda quer em última análise para a distinção do mérito inter-pares. Sejamos crus e directos.
O presente modelo de avaliação serve de facto para limitar e impedir a progressão dos professores no quadro da respectiva carreira. A definição de quotas para as notas de Muito Bom e Excelente, e o acesso restrito a alguns escalões, vai nesse sentido.
Contudo, bastava algum pragmatismo, e evitar-se-ia tanta confusão nas escolas para atingir tão “nobre” propósito. Simplesmente, congelavam a progressão na carreira docente. Aliás, a tutela (Ministério das Finanças?!) já o fez, e os professores já estão habituados! Passe a ironia.
A educação, outrora considerada verdadeiro desígnio do país e factor primordial para a obtenção de patamares superiores de desenvolvimento económico e social, foi apanhada pelo turbilhão e tresloucadas aventuras do capital financeiro, pela ditadura dos mercados e dogmatismo das políticas neoliberais cujos governantes nacionais e europeus nos vêm impondo (sem cuidarem de saber quais as causas da crise), que conduziram à desregulamentação da economia e da sociedade, e aos défices externos e orçamentais.
E é aqui que se localiza o cerne da questão. O que vale não é a vertente pedagógica, a aquisição de saberes e competências, e o real sucesso educativo, conforme determina a Lei de Bases do Sistema Educativo, mas ao invés, critérios de ordem economicista e contenção de custos a todo o gás, nem que para tal, se progrida na destruição da qualidade do ensino e da Escola Pública.
Se ao modelo de avaliação do desempenho dos professores, adicionarmos cortes nas remunerações e congelamento da progressão na carreira, agravamento da carga horária semanal e das condições de trabalho, criação de mastodontes vulgo mega-agrupamentos, o garrote que aperta a organização do próximo ano lectivo e a escassez de recursos humanos, vamos ter um caldo de condimentos, propício ao estalar da indignação e da conflitualidade nas escolas portuguesas.
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