quarta-feira, 22 de junho de 2011

Remar contra a maré

O mundo associativo não é imune à aguda crise social, económica e financeira do capitalismo contemporâneo, sofrendo com o momento conturbado, e enfrentando barreiras difíceis de superar. As causas dos constrangimentos associativos não se relacionam somente com a quebra brusca dos apoios financeiros, materiais e logísticos, com proveniência do poder local, empresas e cidadãos.

O fenómeno complica-se por via do próprio modelo de desenvolvimento da sociedade e da economia, cada vez mais neoliberal, na sua natureza e objectivos, que promove e estimula o individualismo, o consumismo desenfreado, o self-made man, o apego implícito ao egoísmo, o fetichismo do dinheiro, a mercantilização das relações humanas e o carácter infalível dos mercados.

Modelo de desenvolvimento e modo de vida que antagonizam a cultura dos valores e da solidariedade, o altruísmo, a primazia do colectivo e da cidadania activa, o voluntariado e o envolvimento desinteressado dos cidadãos na vida das instituições e da sociedade local.

Não obstante a trajectória negativa das medidas de política nacional e os desincentivos que impedem o crescimento do associativismo - o meio social local, a sua massa crítica e os agentes mais activos e conscientes - têm de rumar contra essa macro-realidade e mobilizar-se para manter de pé e consolidar as instituições e colectividades sem fins lucrativos.

A qualidade de vida, os níveis de bem-estar, a dinâmica e a atractividade dos centros urbanos ressentir-se-iam perante o enfraquecimento ou desaparecimento de instituições com funções sociais, educativas, culturais, artísticas, recreativas, desportivas ou financeiras que, nunca é demais repetir, prestam um serviço público relevante. Em boa parte dos casos, o que está em causa, é a resposta aos problemas da juventude e a utilização criativa e saudável do seu tempo de lazer, com efeitos benéficos na formação integral da personalidade, e com poupança de custos para a sociedade em termos de saúde e de justiça (hábitos saudáveis e prevenção de comportamentos desviantes).

Apostila 1 - A realidade financeira da Casa do Povo de S. B. de Messines é explosiva, ameaçando a sua própria existência enquanto instituição. No mínimo, comprova-se um misto de irresponsabilidade, incúria e aventureirismo na gestão daquela importante casa, ao longo dos últimos anos, com especial incidência, na forma e nas condições em que se adjudicou e executou as obras de ampliação. Sobra o esforço e a competência da nova liderança, na tentativa de salvar e dinamizar a instituição, já com resultados visíveis a partir do novo modelo de governação.

Apostila 2 - A União Desportiva Messinense (UDM) elegeu novos corpos sociais para o biénio 2011/2013, conseguindo um feito notável em tempo de crise: reuniu à volta de um novo líder (capaz e competente), praticamente, o conjunto alargado dos anteriores dirigentes, acrescido da injecção de algum sangue novo.

Nas circunstâncias de crise económica e financeira impõe-se uma única saída aos órgãos dirigentes dos clubes de futebol da escala da UDM ou do Silves F.C. (para não irmos mais longe): privilegiar o trabalho com os escalões de formação e reduzir significativamente as despesas com o futebol sénior, atirando para segundo plano, os resultados desportivos da principal equipa. É a única forma de garantir a sustentabilidade do projecto, no curto e médio/longo prazo.

Apostila 3 - Faz parte do rol de competências da autarquia silvense resolver o problema do Campo Municipal de S. B. de Messines que impede o clube de disputar os jogos em casa, e o obriga(ou) a competir em Salir (Loulé) no âmbito do Nacional da 3.ª Divisão.

A meu ver, a melhor decisão do ponto de vista da racionalidade económica e da estratégia, justifica a implementação do processo de construção de um complexo desportivo na freguesia, através do cumprimento de várias etapas, designadamente: (i) selecção do local de implantação; (ii) estudo do modelo de negócio com o(s) privado(s); (iii) acordo com o(s) proprietário(s); (iv) inclusão do espaço em PDM; (v) programa de financiamento; (vi) construção faseada das obras. (Ressalvo que ao longo das várias etapas iniciais não há mobilização de recursos financeiros, ao mesmo tempo, que a adopção de modelo de negócio apropriado, reduzirá sensivelmente a necessidade dos mesmos recursos).

Atamancar o Campo Municipal exige custos elevados (eventual intervenção no lado das bancadas é inaceitável) e não resolve o problema fundamental do clube: um único rectângulo de jogos para cerca de 10 equipas de futebol bloqueia o potencial de crescimento da actividade desportiva (não só o futebol) na freguesia.


Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Junho/2011

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