sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A cegueira continua


O Governo português não aprende com os resultados catastróficos da sua política de austeridade sobre austeridade. Tudo o que é indicador económico e social, défice orçamental, dívida pública, crescimento económico, investimento, desemprego, pobreza, insolvências, encerramento de empresas, poder de compra, níveis de confiança, etc, regista evolução negativa.
Caminhamos alegremente para o 3.º ano de recessão, na peugada da Grécia, que se encontra à beira de entrar no 6.º ano de declínio económico. Mais troikista que a troika, subserviente à Alemanha, da qual já somos um mero protetorado, o Governo insiste em doses maciças e redobradas de austeridade, correndo atrás de metas e objetivos deslizantes e inatingíveis que acarretam o empobrecimento galopante da sociedade portuguesa e a destruição da classe média, engordando a estreita faixa dos ricos e o capitalismo rentista, e transformando em cacos o tecido empresarial, a economia e a democracia.
É tamanha a convicção da receita trilhada que, paralelamente ao debate da proposta de orçamento de Estado para 2013, e antes da sua votação final, os protagonistas já trazem à liça um Plano B de contingência – cortes adicionais no valor de 830 milhões de euros – para fazer face a outro previsível desvio colossal.
E como se não bastasse, também se anuncia medidas de redução da despesa pública para 2014/2015 nas áreas da saúde, educação e segurança social no montante de 3500 milhões de euros (a que acresce 500 milhões na justiça e administração interna).
E a investida prossegue com a defesa da refundação do Estado social cujo propósito implícito é ferir de morte o serviço nacional de saúde e o ensino para todos, independentemente da sua condição financeira, a proteção social dos cidadãos, os direitos dos empregados e o apoio aos desempregados.
As políticas da coligação da direita conservadora e neoliberal, dividida internamente, e comprovadamente, a prazo, não só têm provocado a indignação e a revolta populares através de impressionantes e crescentes manifestações de rua, como também tem colhido a crítica quase unânime de personalidades e comentadores, desde a direita até à esquerda do espectro partidário.
O ortodoxo Fundo Monetário Internacional admite que a austeridade pode tornar-se política e socialmente insustentável nos países mais fragilizados da Europa, e que a organização errou na receita para a crise e que mais austeridade agrava a situação dos países sobre ajustamento.
Salazar disse um dia que “somos um país pobre que, tanto quanto se enxerga, no futuro não pode aspirar a mais do que à dignidade de uma vida modesta”. Se os “de baixo” deixarem, é precisamente para aí, que os “de cima” nos empurram.

Câmara Municipal de Silves esmaga interesses locais

A Câmara Municipal de Silves, liderada pelo PSD desde 1998, é caso único no panorama nacional pelos maus motivos.
Os seus dirigentes, numa fase inicial, invocando a não aprovação do orçamento para 2012 (aplicar-se-ia o orçamento do ano anterior), e posteriormente, assentando as desculpas, na famigerada “Lei dos Compromissos” que de facto condiciona o funcionamento normal dos organismos públicos, chegam a Novembro do ano corrente, sem cumprir com o compromisso das transferências de verbas para as Juntas de Freguesia do concelho de Silves (cerca de meio milhão de euros após corte brutal de 26% viabilizado pelos eleitos socialistas),  associações e coletividades.
Pior ainda: em consequência do anterior, a autarquia silvense gerou situações familiares dramáticas com o não pagamento de salários nalgumas Juntas de Freguesia, correndo-se o risco do mesmo fenómeno se alargar às restantes.
Política, manifestamente centralista e autoritária, inaceitável, insensível do ponto de vista social, fruto de teimosia persistente que não dignifica os seus responsáveis, é uma afronta à natureza do poder local democrático, esvazia o poder de intervenção das Juntas de Freguesia, dos clubes e associações que prestam relevante serviço público, deprime a economia local e lesa irremediavelmente as comunidades e as suas populações.
Edição de Novembro/2012

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