Câmara aprovou o pior orçamento pós-25 de Abril de 1974 |
O plano e orçamento da Câmara Municipal de Silves (CMS) para 2013 no montante de 37 milhões de euros (viabilizado pelos eleitos do PSD e PS, e a oposição da CDU ) é motivo oportuno para uma breve reflexão técnica e política sobre os documentos de gestão que em princípio orientarão a ação do município e darão corpo às políticas autárquicas durante o ano corrente.
Este tema é tão ou mais relevante se constatarmos a ligeireza como a generalidade da comunicação social local, regional e nacional, aborda os orçamentos camarários.
A imprensa escrita
limita-se a servir de porta-voz do Presidente da Câmara ou do seu Gabinete,
prevalecendo nas redações dos jornais a não certificação da informação
veiculada, decerto por ausência de conhecimento específico, e a inexistência de
contraditório equivalente por parte da oposição.
Por outro lado, a imprensa
especializada em assuntos económicos não se dá tampouco ao trabalho de publicar
um ou outro texto de análise técnica, por exemplo, sobre os orçamentos dos grandes
municípios.
Anos a fio, hoje com menor frequência, deparamo-nos com parangonas na
imprensa que anunciam a aplicação do regime de duodécimos em autarquias com
orçamentos reprovados, quando o que se aplica é simplesmente o orçamento do ano
anterior com as modificações introduzidas!
No
preâmbulo do orçamento da CMS para 2013, enunciado pela maioria PSD como feito
notável, podemos ler: “… entendeu este
executivo apresentar o mais baixo orçamento dos últimos 10 anos (37 milhões de
euros), operando uma redução de cerca de 10 milhões de euros num ano.”
Concluindo que “ … tal reflete uma
extrema contenção nos custos…”.
O exercício de análise é pura mistificação,
indiciando impreparação, porque a comparação (indevida) é estabelecida entre
orçamentos virtuais. A execução real dos orçamentos anuais tem-se situado na
ordem dos 32/33 milhões de euros. Apenas abaixo destes valores é que poderíamos
começar a falar eventualmente de contenção de custos.
Chegados até aqui,
restava ainda saber em que medida a redução de custos se focalizava nas
despesas correntes ou nas despesas de investimento, o que faria toda a
diferença. Ora, entre 2002 e 2011, as despesas correntes da autarquia quase que
duplicaram (de 13,9 para 26,2 milhões de euros), enquanto a (fraca) taxa de execução
do investimento programado se fixou nos 37%.
O
investimento previsto para 2013 no valor de 8 m. euros, além de largamente
empolado e indefinido no concreto, inclui dívida, não se descortinando obra
nova significativa.
No ano de 2012 a autarquia silvense impôs cortes
inaceitáveis de 26% nas transferências para as Juntas de Freguesia, e como se
isso não bastasse, arrastou o seu pagamento até à última semana do ano (!),
justificando-se, inicialmente, com a aprovação tardia do documento, e posteriormente,
com a famigerada Lei dos Compromissos (em 2013 mantêm-se as verbas de 2012).
Por toque de magia, num ápice, a mudança
de presidente conduziu à resolução do imbróglio!
A maioria esmagadora das
associações culturais e desportivas não recebeu um cêntimo de subsídio no ano
transato e as verbas previstas para o ano corrente refletem reduções na ordem
dos 200/300 por cento!
Assinale-se que o orçamento para 2013 não honra os compromissos
não assumidos em 2012, nega procedimentos anteriores, renega, a meu ver, o
bom nome da autarquia, e periga, inclusivamente, a sobrevivência de instituições
norteadas pelo voluntariado que prestam relevante serviço público à comunidade.
Somente uma avaliação muito benigna levaria a concluir que o orçamento da
CMS/2013 é o orçamento possível face às doses brutais de austeridade
assimétrica e ao violento ciclo recessivo que varrem o país de norte a sul. Não
é exagero afirmar que é o pior orçamento camarário da história da democracia em
Silves.
O orçamento da CMS/2013 não é
reflexo apenas da crise do capitalismo financeiro, do programa de resgate da
troika, e da aplicação cega da doutrina neoliberal à escala nacional e
europeia.
É também consequência do preço da má gestão financeira, das políticas
avulsas, das prioridades erradas e ausência de visão estratégica, durante o
longo consulado do PSD/local, que a crise se encarregou de trazer para a
ribalta.
O trajeto da gestão financeira sob o comando da atual maioria está sinalizado
por orçamentos irrealistas e marcado pela imprudência, processos judiciais, improviso,
insustentabilidade, endividamento excessivo e desequilíbrios recorrentes.
No
ano de 2005 a autarquia confrontou-se com a situação de falência técnica. Em
2009 beneficiou de empréstimos públicos no montante de 15 milhões de euros para
a liquidação total do passivo corrente. Em 2011, dois anos depois, o passivo
corrente voltou a ultrapassar a barreira dos 10 milhões de euros. O “Processo
Viga d´Ouro” e os “Acordos de Regularização de Dívida” subjacentes, também
fizeram o seu caminho, e ainda hoje, provocam mossa em termos de pagamento de juros de mora (3,1 milhões de euros nos
últimos 5 anos).
Num tempo em que
o concelho de Silves carecia de um orçamento anticíclico que esbatesse os
efeitos devastadores da crise na comunidade, nas empresas e nas famílias, o
poder municipal segue o(s) passos do governo
… rumo à destruição da economia e ao empobrecimento salazarento da sociedade
portuguesa.
Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Janeiro/2013
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