segunda-feira, 25 de março de 2013

Associações, coletividades desportivas … e a crise


A economia social que integra, designadamente, o mundo associativo, coletividades, clubes e outras instituições, à semelhança da economia real, ressente-se das consequências da crise aguda do capitalismo financeiro e da brutal terapia austeritária prescrita conforme os cânones do fanatismo neoliberal nacional e europeu, sob liderança alemã que faz tábua rasa das previsões rotundamente falhadas e corrigidas, e da revolta e indignação que alastram de norte a sul de Portugal. 

Políticas sem rumo que conduzem à miséria e ao empobrecimento. Neste pano de fundo aviltante e funesto cujo fim não se vislumbra no horizonte, são extraordinariamente escassos os apoios financeiros e os patrocínios, e as oportunidades de gerar receita em virtude das enormes dificuldades por que passam empresas e famílias. 

Às autarquias, sobretudo, os municípios, pelo volume dos recursos que mobilizam, pelo conhecimento do território e problemas locais, pela maior sensibilidade social, proximidade à comunidade e às populações, impunha-se visão estratégica que conduzisse à adoção de políticas e medidas anticíclicas (alívio de taxas, licenças, impostos, etc.) e à manutenção da generalidade dos apoios ao mundo associativo, admitindo-se aqui ou ali, cortes ligeiros, na pior das alternativas. 

Torna-se claro que a promoção de medidas anticrise pressupunha à priori uma boa gestão dos recursos financeiros na fase das “vacas gordas”, fenómeno que manifestamente não ocorreu em Silves, como por diversas vezes foi demonstrado nesta coluna de opinião. 

Daqui decorrem graves consequências para a vida de muitas associações que nunca é demais reafirmar, graças ao trabalho de voluntariado, substituem os poderes públicos na prestação de serviços à comunidade, nas áreas da cultura, artes, património, recreação, desporto, etc. 

A par desta conjuntura económica, social e política de pendor recessivo, retrógrado e ataque violento e desumano, nunca antes visto, ao Estado social, à Democracia e aos direitos de trabalhadores, pensionistas e cidadãos que configura confisco, retrocesso civilizacional e golpe anticonstitucional, o mundo associativo também não se pode eximir a responsabilidades próprias em matéria de organização, planeamento e gestão dos seus recursos. 

Num contexto agreste e explosivo como o atual, importa recorrer a elevados padrões de qualidade na condução e direção das várias instituições, trabalhando por antecipação, sob pena de várias delas, não sobreviverem ao temporal. 

Nas coletividades que praticam o desporto-rei (futebol) por razões que se prendem com ambições frequentemente desmedidas, frenesim de sucesso a todo o custo, e alienação das massas associativas que se alheiam da participação na vida interna das agremiações e nada querem saber de coisascomo a sustentabilidade financeira dos projetos, os riscos de despistagem e sobrevivência são elevados.

Se os dirigentes desportivos também desvalorizarem a importância transcendente de ajustar o projeto desportivo ao projeto financeiro através da elaboração de orçamentos anuais (época desportiva), rigorosos e detalhados, concebidos com critérios e técnicas de gestão, reunir-se-ão as condições para a tempestade perfeita. 

(Existe a perceção fundada de que a massa de dirigentes desportivos, e de associados, não interiorizaram o papel determinante do orçamento no equilíbrio das contas dos clubes, sendo raro que alguém questione e reflita sobre o mesmo, facto que só pode assentar na ignorância).

A União Desportiva Messinense é exemplo paradigmático com prevalência das boas práticas. 

Ao longo do seu 2.º ciclo de vida (período pós-1989/90), caracterizado pela adoção e implementação gradual de instrumentos de gestão, organização e planeamento, a UDM teve a oportunidade de executar com sucesso vários orçamentos com os requisitos atrás enunciados. 

Porém, continua na ordem do dia a formulação do seguinte

A questão central não está em conceber orçamentos anuais em ambiente económico favorável (mais fácil) e não concebê-los em período de crise (mais difícil). Está em assumir, de forma permanente, compromissos e despesa, de acordo com a definição/previsão de receita, projetada em moldes prudentes e seguros, que pressupõe a elaboração imperativa de documentos previsionais anuais.  

Nos momentos em que a UDM não o fez, os passivos corrente e financeiro dispararam, com reflexos negativos na credibilidade da instituição e do projeto desportivo. Esconder a cabeça na areia como a avestruz, e fazer de conta que mais cedo ou mais tarde, as receitas, por artes de mágica, cairão do céu, origina retrocessos e “travessias no deserto” com custos de recuperação agravados.

Não é má ideia blindar os estatutos, inscrevendo a obrigação legal das Direções dos Clubes Desportivos, submeterem orçamentos anuais (época desportiva) à apreciação da Assembleia Geral, que obstaria a problemas de sustentabilidade financeira e desportiva. 


Edição de Março/2013

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