O designado
terceiro setor da economia, a economia social, na qual se integra o mundo
associativo (coletividades, clubes e instituições sem fins lucrativos) que
funciona em conjunto com os setores público e privado, é condicionado pela natureza
hostil das políticas macroeconómicas e sociais de pendor neoliberal,
implementadas a partir da União Europeia, com bons executantes em Portugal, que
promovem o individualismo, a privatização e a mercantilização de tudo o que
mexa na sociedade (sociedade de mercado).
O movimento associativo não tem hoje
em dia a vida facilitada. Os valores
da cooperação, entreajuda, solidariedade, voluntariado e desapego ao “vil
metal” em prol da defesa dos interesses dos associados e das comunidades, são
difíceis de se impor numa sociedade onde o que mais conta, é cada indivíduo
superar o seu semelhante numa lógica de competitividade feroz e da Lei do mais
forte.
Apesar dos rumos
da sociedade contemporânea, sob a égide do capitalismo no papel de sistema
dominante à escala planetária, as associações que operam nos domínios social,
artístico, cultural, recreativo e desportivo, resistem e desempenham um papel
fundamental, quer na formação integral do indivíduo, na fruição e ocupação
criativa dos tempos livres, quer igualmente no bem-estar e desenvolvimento das
comunidades locais.
As associações sem fins lucrativos substituem muitas vezes
o Estado e são um prolongamento deste na implementação das suas políticas
sociais.
No contexto da atual
grave crise financeira, económica e social, é particularmente relevante que as
coletividades sejam dirigidas por grupos de cidadãos, não só dotados de
espírito de sacrifício, dedicados, empenhados e criativos no trabalho diário,
mas também minimamente capacitados nas técnicas de direção e administração das
organizações, entendidas como entidades sustentáveis do ponto de vista
económico e financeiro, garantindo receitas próprias num nível, que evitem a subsidiodependência,
travessias no deserto ou mesmo a extinção.
Nada pior do que a instituição
lançar projetos megalómanos ou assumir pesados compromissos, sem dispor de
capacidade própria suficiente, sem negociar previamente com as entidades
públicas parceiras, especialmente, os Municípios, e sem garantir outras fontes
de financiamento e apoios alternativos.
Este
é um dos vícios a combater no mundo associativo, a par de outros: defesa
dos estreitos limites da associação, antagonizando as demais e os interesses
gerais da comunidade; o uso do cargo de dirigente como trincheira de combate
político-partidário e trampolim para carreiras políticas - de forma antinatural,
premeditada e calculista; algum aproveitamento na confusão entre
dirigente/técnico e o pagamento de remunerações, fugindo-se ao espírito
associativo; a ausência de cordialidade, lealdade e verdade no relacionamento
com o poder local democrático - não confundir com dependência ou subserviência
- que é o principal sustentáculo da vida das coletividades e instituições
locais (é inaceitável que uma qualquer instituição, sendo recetora de avultados
subsídios do erário público, se dê ao luxo de ainda exigir mais!), etc.
Constatamos
que o Município de Silves (Maioria CDU) aprofundou as suas políticas de apoio e
promoção das associações, coletividades e instituições locais sem fins lucrativos,
facto tanto mais relevante, quando a sua capacidade financeira tem vindo a
diminuir por várias razões: cortes nas transferências da administração central,
diminuição das receitas próprias em consequência do clima de austeridade e
recessão e assunção do passivo herdado (Processo Viga d´Ouro).
As somas das
verbas aprovadas para 2014, no âmbito dos 4 programas de apoio às diversas
coletividades e instituições, totalizam 347
000,00 euros, representando um aumento de 92 000,00 euros (+ 36%) relativamente
a 2013. O PAIAC (cultura) regista um crescimento substancial de 77%, comparando
com o ano anterior.
Na relação poder local/associação é fundamental respeitar o
espaço e autonomia de cada um. O poder local, mantendo naturalmente uma forte
agenda própria, não deve invadir o espaço de intervenção das coletividades,
privilegiando uma política de estímulo, complementaridade e descentralização.
As associações, por sua vez, para preservar a sua autonomia, precisam de
projetar as suas atividades de forma sustentável, contando, essencialmente, com
recursos próprios, e obviamente, também com os recursos alheios, previamente
negociados e garantidos.
Apostila – “O que o PS
sempre propôs foi ir mais devagar, fazer o mesmo que este Governo mas em doses
menores.” (António Costa,
Diário Económico, 26.08.2014)
Com clareza para
que ninguém se sinta ludibriado!
Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Setembro/2014
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