terça-feira, 28 de outubro de 2014

Embustes

A acesa disputa entre Seguro e Costa pela liderança do partido de Mário Soares distanciou-se do cumprimento dos cânones da ética e do suposto bom relacionamento entre pares do mesmo partido, escandalizando o país mais atento. 

A frequência dos ataques pessoais não abonaram em prol do incremento do interesse dos portugueses pela vida política. A introdução das eleições primárias no sistema político português, qual modelo estadunidense, retirando a novidade, o efeito mediático e a elevada participação de eleitores num ato interno partidário, todo o resto escasseou, a começar pela ausência de decência e fulanização da contenda, e a terminar, na inexistência de propostas, projetos, compromissos futuros e na aridez do debate ideológico, fazendo-se transparecer a falsa imagem de duas pessoas em confronto político. 

A política portuguesa necessita de clareza, verdade e alternativas reais - não de alternâncias - à desastrosa governação da direita e ao atual modelo europeu imposto pela Alemanha. 

Os portugueses prefeririam conhecer as propostas alternativas que os dois defendem para o país, explicando-nos como se diferenciam das políticas neoliberais, esclarecendo como é possível compatibilizar a utopia do Tratado Orçamental e as metas impossíveis da redução do défice orçamental e da dívida pública que assinaram em conjunto com o PSD e o CDS, com a defesa do emprego, do Estado Social e do crescimento económico. 

“Sol na eira e chuva no nabal” é difícil. 

A ilusão do presidente francês, o socialista Hollande, apontado inicialmente como o farol e a esperança dos socialistas europeus, rapidamente se transformou num enorme desencanto, e num ápice submeteu-se às políticas e à lógica austeritária da chanceler Merkel. 

Parece um exagero, mas a verdade é que o bloco central de interesses que juntou a direita e os socialistas nos quase 40 anos de democracia, conduziu o país à ruína, ao empobrecimento, à corrupção e à captura da política pelos grandes grupos económicos. “A política transformou-se, ela própria, numa megacentral de negócios. Ex-ministros das Obras Públicas, como Jorge Coelho ou Valente de Oliveira, tornaram-se administradores de empresas de obras públicas; outros, como Vera Jardim e Luís Amado, são hoje presidentes de bancos. Dias Loureiro, Vara, e muitos outros que têm dirigido os destinos do país, estão a contas com a justiça. Os políticos do arco do poder, PS, PSD e CDS, são os principais atores desta tragédia, e não se espera do seu seio qualquer solução.” (Paulo Morais, Professor Universitário, CM, 04.10.2014)

A ladainha e a mentira repetida à exaustão de que os portugueses viveram acima das suas possibilidades cai por terra, não só com dados estatísticos, como também pelos Mega escândalos que atingiram alguns dos seus paladinos. 

Veja-se os escândalos do BES/GES e da família Espírito Santo (Operação Furacão, Face Oculta, Portucale, Escom, submarinos) que envolveu gestão irregular e fraudulenta, e perdas na ordem dos largos milhares de milhões de euros, e alegada participação na distribuição de luvas do negócio dos submarinos (40 milhões de euros) cujo impacto na economia e nos contribuintes é ainda imprevisível.

Apostila 1 – Desde há muito que registo alguma perplexidade ao constatar posições diametralmente opostas no seio dos responsáveis/eleitos locais dos partidos do bloco central que - por um lado – afirmam discordar das medidas negativas do governo (degradação dos serviços de saúde e educação, encerramento de serviços públicos, portagens na Via do Infante, cortes nas transferências para as autarquias, instalação de grandes superfícies comerciais, medidas lesivas do funcionamento das Corporações de Bombeiros, etc) e por outro - sustentam-no politicamente, como se coexistissem dois partidos - o local e o nacional! Defende-se localmente o que se combate centralmente!

Apostila 2 – O novo executivo municipal venceu para já a aposta na melhoria da recolha dos resíduos sólidos urbanos (RSU), uma das suas primeiras prioridades, o que não deixa de ser um paradoxo e motivo de reflexão, após 40 anos de Democracia. 

Dotada de uma frota de viaturas pesadas, obsoleta e a exigir renovação (decorre um concurso público internacional para a aquisição de 2 viaturas) mas em operacionalidade permanente há vários meses, a par da insuficiência de pessoal que o governo impede de contratar, o serviço público de recolha dos RSU registou evolução positiva. 

As lavagens dos contentores voltaram a ser realizadas com regularidade e intensificar-se-ão. 

Porém, para que a melhoria se torne mais efetiva, é absolutamente indispensável o civismo e a colaboração dos utentes. 

Reprova-se a atitude de quem deposita, anarquicamente, o lixo nos contentores (restos de alimentos), de quem deposita entulhos nos mesmos, ou de quem abandona o lixo no exterior, com o equipamento vazio. A deposição de monos sem aviso prévio e a qualquer dia e hora, também não é a melhor solução. É igualmente importante o uso correto dos ecopontos. O ambiente e a higiene pública agradeciam.


Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Outubro/2014


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