No altar da
política portuguesa não se notam comportamentos novos nos protagonistas do
centrão. A sete meses das próximas eleições legislativas, António Costa, líder
do PS que “faz de morto”, evitando provocar ondas e fugindo à apresentação de
políticas alternativas consistentes, preferindo deixar correr o marfim e
esperar que as coisas aconteçam, distraiu-se recentemente num encontro com
investidores chineses, ao afirmar que o país está diferente (para melhor) se comparado
com 2011 - o ano da bancarrota e do pedido de resgate à Troika pelo governo de
José Sócrates.
A opinião pública sai confundida e o próprio interior do PS foi
abalado, sendo convicção de muitos, que António Costa, considerado uma pessoa
hábil nos apoios que reúne à esquerda, mas na prática, distinguindo-se pouco da
direita, aliás, como é timbre dos socialistas, cá dentro e por essa europa fora,
deu um tiro no pé, como se diz na gíria política.
Confirma-se que os dirigentes
do bloco central falam em função dos auditórios, para consumo interno ou
externo, conforme as conveniências, e pior do que isso, prometem o paraíso
antes das eleições, e lançam-nos no inferno assim que aportam ao governo.
Para
não ir mais longe, foi o que aconteceu com José Sócrates e com Passos Coelho.
Mas voltando à questão de fundo - O país está melhor hoje do que em 2011? O
líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro não tem dúvidas. No início de 2014
deu uma entrevista ao Diário de Notícias e na ânsia da busca da originalidade,
proclamou uma autêntica alarvidade: os portugueses estão pior, mas o país está
melhor!
Nesta ordem de ideias, as pessoas não existem, existem números e um
conjunto de entidades a que se chama país. Para o deputado, que as pessoas
estejam pior, não tem qualquer importância! É evidente que a realidade é trágica para os portugueses.
As
condições de vida deterioraram-se fortemente para a maioria esmagadora dos
trabalhadores, empresários e população. A cegueira austeritária falhou.
Os
brutais sacrifícios infligidos aos portugueses para além da Troika conduziram à
manutenção do défice orçamental acima dos 3% do Produto Interno Bruto, a dívida
pública não pára de crescer à conta dos juros exorbitantes pagos à Banca e aos
credores, revelando-se impagável nas condições atuais, mas sobretudo, a economia
e o tecido empresarial definham, as desigualdades, a pobreza, a corrupção e os
grandes escândalos grassam de forma visível, aprofunda-se a degradação do
Estado Social (educação, saúde, segurança social), as mortes nas urgências
hospitalares são a expressão máxima da crueldade e desumanidade, o desemprego mantém-se
altíssimo, destruindo e infernizando a vida familiar, e o abandono da pátria
por parte de mão-de-obra qualificada e jovem equivale às vagas emigratórias dos
anos 60 do século passado.
Atestar as melhorias do país pelo acesso com juros
mais baixos aos sacrossantos mercados financeiros é redutor. Nem as famigeradas
agências de rating confiam nas putativas melhorias nacionais, mantendo as
notações ao nível do lixo.
Em suma, é inacreditável que o máximo dirigente do
partido da rosa, convergindo com a coligação de direita, diga em público que o
país está melhor. Bem desejaríamos que assim fosse. Ninguém recusaria dar a mão
à palmatória. Mas a realidade é adversa e negra, sendo duramente sentida no quotidiano
dos portugueses.
Apostila 1 – No Algarve, e reportando-nos ao ano de 2013, 28%
das empresas encontravam-se tecnicamente falidas (17% em 2007), quase 50%
apresentaram prejuízos (29% em 2007).
Apostila 2 – Da consulta ao balanço do Programa Operacional
Regional do Algarve (PO21) relativo ao anterior Quadro Comunitário de Apoio
(2007-2013), nas Tipologias – Mobilidade Territorial (estradas, arruamentos,
etc.) e Requalificação da Rede Escolar do 1.º Ciclo, deparamo-nos com facto insólito.
O Município de Silves é o único dos 16 municípios da região do Algarve que não
garantiu qualquer candidatura aprovada (investimento financiado à média de 65%
a fundo perdido)! Perdeu-se oportunidade histórica e foi prestado um mau
serviço ao concelho de Silves pela anterior maioria PSD, pois as carências nas
áreas em causa, ainda são gritantes.
Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Março de 2015
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