“A salvação dos bancos a todo o custo,
fazendo pagar o preço à população, sem a firme decisão de rever e reformar o
sistema inteiro, reafirma um domínio absoluto da finança que não tem futuro e
só poderá gerar novas crises de uma longa, custosa e aparente cura. A crise
financeira de 2007 e 2008 era a ocasião para o desenvolvimento de uma nova
economia mais atenta aos princípios éticos e para uma nova regulamentação da
atividade financeira especulativa e da riqueza virtual. Mas não houve uma
reação que fizesse repensar os critérios obsoletos que continuam a governar o
mundo.” (Papa Francisco,
Carta Encíclica Laudato Si, 2015)
Nada mais
oportuno que as palavras do líder supremo da igreja católica para servir de
mote à crítica de mais um escândalo da banca portuguesa que rebentou no BANIF
(buraco de 3 mil milhões de euros), após outros verificados no BPP, BPN e BES,
num rol de gestão irresponsável e fraudulenta que castiga sempre os
contribuintes portugueses.
A anterior coligação de direita, com a conivência de
reguladores, auditores, administradores e Banco de Portugal, andou a esconder o
problema até às últimas eleições legislativas numa tática política
inqualificável e de falta de sentido de Estado, afinal, a mesma que seguiu com
a despudorada promessa de devolução de 35% da sobretaxa do IRS em 2016, à conta
de um crédito fiscal que se vê a revelar nulo!
Entre 2008 e 2014 o Estado português injetou na banca 19,5 mil milhões
de euros, segundo dados do Banco Central Europeu.
Os escândalos na banca
põem a nu os verdadeiros responsáveis pela crise financeira que gerou pesadas e
dramáticas repercussões sociais e económicas, desmistificam clara e
objetivamente quem vivia acima das suas possibilidades, e expõem o clamoroso
falhanço do “programa de ajustamento” a que Portugal foi sujeito entre 2011 e
2014, demonstrando quanto inúteis foram os brutais sacrifícios infligidos,
porquanto mataram a economia, mantendo os défices orçamentais acima dos 3% do
PIB, e a dívida pública em trajetória ascendente.
Toda esta triste realidade
também mostra o dogmatismo da União Europeia, que não olha a limites quando se
trata de salvar bancos, sempre com a desculpa dos efeitos sistémicos, mas que
se recusa a salvaguardar postos de trabalho em empresas estratégicas ou a
apostar no investimento público para relançar a economia.
A mesma União
Europeia que, no período da troika, financiava diretamente a atividade
especulativa da banca a taxas de juro de 1%, cobrando depois ao Estado,
famílias e empresas, juros de empréstimo que variaram entre os 5 e 12%!
Os
problemas repetem-se mas as receitas permanecem imutáveis. A finança impõe-se à
economia, à sociedade e à própria democracia, não se repensando os critérios
obsoletos que continuam a governar e europa e o mundo. Até quando?
Apostila – o Município de Silves tem pela frente um orçamento
ambicioso, marcado por um volume considerável de investimento, na ordem dos 8
milhões de euros.
Não é tarefa fácil realizar um investimento daquela magnitude
quando os tempos ainda são de austeridade, débil crescimento económico e as
fontes de receita não abundam.
O objetivo torna-se mais complexo quando a
autarquia está sujeita a um elevado esforço de amortização do passivo
financeiro ao longo do mandato autárquico (12,7 milhões de euros) e ao consumo
de tempo e recursos na reorganização da máquina camarária, bem como na
eliminação de fragilidades internas diversas.
Sumariamente - elaborar um
conjunto vasto de projetos técnicos, lançar concursos para a execução das
empreitadas, executar efetivamente as obras, vencer as pesadas amarras
burocrático-administrativas e cumprir com a legalidade, providenciar em
simultâneo a necessária engenharia orçamental e financeira, num curto período
de quatro anos … se tudo isto for concretizado … a liderança camarária estará
de parabéns, e a população não deixará de reconhecer tamanho contributo em prol
do desenvolvimento do concelho.
Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Janeiro de 2016
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