sábado, 24 de janeiro de 2015

Ano de 2015 - vida nova, velhos vícios

O novo ano não trará alterações positivas às condições de vida dos portugueses que manter-se-ão no quadro da violenta austeridade que nos tem sido imposta pela Troika e cumprida cega e convictamente acima das metas acordadas pela coligação de direita. 

O maior flagelo e drama da sociedade lusa – o desemprego – está para durar. O governo manipula os dados do desemprego em larga escala, o que já obrigou o Provedor da Justiça a intervir, e o próprio chefe da missão do FMI em Portugal a reconhecer que não percebe como é que o desemprego está a baixar! 

O embuste dos números oficiais do desemprego passa pela não inclusão de 457 445 pessoas (3.º Trimestre de 2014) que integram os Inativos Disponíveis (desempregados que não procuram emprego), os Contratos de Emprego-Inserção (trabalho semi-escravo em que o trabalhador recebe pouco mais que o subsídio de desemprego), os formandos e os estagiários. 

Mesmo com a elevada vaga emigratória registada nos últimos 4 anos que ultrapassará as 400 mil pessoas, a taxa real de desemprego encontra-se acima dos 20%, que é um número absolutamente arrepiante e indiciador do aumento dos níveis de pobreza, de aprofundamento das desigualdades sociais e destruição da célula familiar, principal alicerce da vida em sociedade. 

Cerca de três quartos dos trabalhadores que estão de facto desempregados não recebem subsídio de desemprego. O confisco à função pública, aos reformados, aos trabalhadores, às micro e pequenas empresas, prosseguirá em 2015, envolto numa ação de propaganda por parte do governo que tenta fazer crer o contrário. 

A manutenção dos cortes nos salários e pensões, o congelamento de carreiras, o aumento dos preços de bens e serviços essenciais, a aplicação da sobretaxa sobre o IRS, a introdução do “imposto verde”, as engenharias mal explicadas do “IRS amigo das famílias”, os acréscimos enormes do IMI para muitos proprietários … no fundo, a carga fiscal que atinge os 38% do PIB, estão aí para evidenciar a deprimente realidade e rejeitar as manobras de propaganda em ano eleitoral. 

O ano de 2015 trará consigo a drenagem da riqueza nacional para os credores/agiotas internacionais na forma de pagamentos dos Juros da Dívida Pública (na ordem dos 8 mil milhões de euros) que ultrapassam o que se gasta com a Educação e é equivalente à despesa com o Serviço Nacional de Saúde. 

Os episódios da corrupção que fustigam e ameaçam o regime democrático vêm de trás e prosseguirão em 2015 com novos desenvolvimentos e eventualmente mais escândalos; BPP, BPN, BCP, BES/GES, Face Oculta, Portucale, Freeport, Submarinos, Taguspark, Vistos Gold, a prisão de altos funcionários do Estado e do ex-primeiro-ministro José Sócrates, são os casos mais mediáticos, que envolvem o Bloco Central de Interesses, os designados “partidos do arco da governação”, e a teia de promiscuidades entre Política e Negócios. 

Os portugueses esperam que se faça Justiça. As políticas de austeridade provocarão a degradação dos serviços públicos, da Segurança Social, Educação e Saúde. Neste último setor, as “poupanças” no material e exames complementares de diagnóstico, medicamentos, enfermeiros e médicos, bem como os encerramentos de serviços e centros de saúde (nalguns casos à boleia das Uniões de Freguesia), as mortes por falta de assistência nas urgências hospitalares, etc, não permitirão a alimentação de perspetivas otimistas.

Em ano de eleições legislativas e no estado a que o país chegou, não deixa de ser curioso ouvir o Presidente da República apelar ao sentido de responsabilidade e ao combate à demagogia e populismo, defendendo o status quo e os habituais protagonistas, e confrontar com a postura do atual primeiro-ministro antes de ser eleito em 2012 que prometia não aumentar os impostos, não despedir ninguém, nem cortar subsídios de Natal e de Férias, nem tocar nas pensões, mas apenas atacar as gorduras do Estado.

Apostila – ao longo de 2014 o Município de Silves abateu 6,1 milhões de euros ao Passivo. Leitura a fazer: primeiro – em traços gerais é positivo a redução das dívidas no âmbito do saneamento financeiro; segundo – no caso em concreto é negativo o dispêndio de avultados meios quer na redução do passivo financeiro, contraído em 2009, para a eliminação de dívida de curto prazo, consequência de má gestão, quer nos pagamentos à Banca, relacionados com o Processo Viga d´Ouro (2005/2006), consequência de gestão irregular, ilegal e alegadamente danosa com graves prejuízos para as finanças públicas locais e os contribuintes; terceiro – o “desvio” de tão avultada verba, impede(irá) a realização de maior investimento autárquico, por ex.: em setores básicos como as redes de abastecimento de água ou a rede viária cuja realidade no concelho de Silves  - após 38 anos de Poder Local Democrático  – não é a desejável.


Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Janeiro/2015


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