sábado, 7 de março de 2015

Desenvolvimento Local

Por vezes passa-se a ideia de que o desenvolvimento local, que numa descrição singela, se mede pelos níveis de satisfação das necessidades básicas das comunidades, pelo acesso ao emprego, à educação, à saúde, à habitação, às artes, à cultura, recreação, lazer, atividade física e desporto, pelas condições e qualidade de vida dos cidadãos, que por sua vez reflete determinada composição da estrutura produtiva, que gera volume de riqueza num dado território municipal, pode ser abordado fora do contexto geral do país e da análise sistémica, enfatizando e sobrevalorizando os recursos endógenos, que vai das competências do poder local, até ao propalado empreendedorismo e voluntarismo de outros atores da microrregião.

Na realidade atribui-se com alguma frequência, por razões políticas diversas, ignorância ou distração, um papel exagerado aos municípios no domínio da problemática do desenvolvimento local, quando a sua capacidade real de influência e intervenção na implementação de um modelo de desenvolvimento circunscrito ao território do concelho ou das freguesias, quer seja em sede de alteração do aparelho produtivo, quer na captação de investimento, na criação de riqueza e emprego, é comprovadamente limitada, na linha das competências e recursos disponíveis de que goza e na medida em que as grandes opções macroeconómicas, o modelo de desenvolvimento regional e nacional, os compromissos externos, a inserção do país no processo da globalização capitalista, são ditados pelas políticas e orientações ideológicas dos governos centrais. 

Veja-se o que tem acontecido ao aparelho produtivo desde a adesão do país à CEE em 1986 que se traduziu na destruição progressiva da agricultura, pescas e indústria e que tudo condiciona. Com isto não se pretende escamotear o importante papel dos municípios no desenvolvimento local. 

Na verdade, todas as medidas de política municipal que são tomadas como a construção e remodelação das infraestruturas básicas (abastecimento de água, saneamento, rede viária), os trabalhos de reabilitação urbana, a construção e requalificação de equipamentos sociais, a salvaguarda, defesa e valorização do património, a intervenção nas áreas da educação, habitação, ação social, desporto, cultura, o apoio ao associativismo, a limpeza e a higiene pública, a política fiscal, o regime de taxas e licenças, o planeamento e ordenamento do território, a qualidade do serviço público prestado, iniciativas como a criação de gabinetes para o apoio direto e personalizado aos investidores, a promoção de plataformas logísticas, planos diretores municipais que não sejam “travão” e equacionem de forma dinâmica os problemas sociais, económicos e territoriais do concelho, e funcionem como instrumentos estratégicos de apoio às oportunidades de desenvolvimento, etc., concorrem para o desenvolvimento local, para o bem-estar e reforço da competitividade do território do concelho.


A par do papel dos municípios e dos agentes económicos residentes que representam uma condição necessária mas insuficiente para enfrentar o desafio do desenvolvimento local nas vertentes da atividade produtiva, do emprego e do combate às desigualdades, é determinante que as políticas governamentais fomentem o crescimento económico (aproveitando os recursos nacionais e promovendo a coesão social e territorial), em vez da austeridade, do confisco fiscal e da recessão que tudo esmaga à sua passagem. 

Não é decerto, num ambiente como o atual, caraterizado pelo encerramento e falência de empresas, onde impera a descrença e a desconfiança, a quebra brutal dos rendimentos das famílias, a liquidação da chamada classe média e a restrição do mercado interno que se propicia o lançamento de novos negócios. 

Usa-se a abusa-se do milagroso micro empreendedorismo como solução para o emprego, o aumento da produção e dos rendimentos, omitindo-se as consequências das políticas económicas e sociais que devastam o tecido empresarial e contrariam, precisamente, o lançamento de novos investimentos. 

Não desvalorizando a instalação e a viabilidade de pequenos negócios, que integram o normal funcionamento da economia de mercado que se renova, é justo referir que boa parte dos novos candidatos a empresário são consequência da crise económica, do desemprego e do desespero, não dispondo de requisitos e perfil para a nova condição e, por isso, condenados ao fracasso. 

Torna-se imperioso desmontar a ilusão de que o problema do emprego e da transformação do aparelho produtivo, se resolve por essa via. O desafio do desenvolvimento socioeconómico local está a léguas de se resolver localmente, para mais quando as próprias autarquias são sujeitas ao contínuo incumprimento da Lei das Finanças Locais (cortes nas transferências), a tentativas de descentralização de competências sem as respetivas contrapartidas financeiras, bem como a restrições graves à sua própria autonomia. 

Finalmente, é preciso vincar que são as empresas dos vários setores da atividade económica que criam riqueza e geram emprego, e em última análise, garantem e consolidam o desenvolvimento dos territórios locais, desde que as políticas dos governos centrais sigam um rumo substancialmente diferente do atual.

Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Fevereiro/2015




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