quarta-feira, 25 de março de 2015

Deslizes

No altar da política portuguesa não se notam comportamentos novos nos protagonistas do centrão. A sete meses das próximas eleições legislativas, António Costa, líder do PS que “faz de morto”, evitando provocar ondas e fugindo à apresentação de políticas alternativas consistentes, preferindo deixar correr o marfim e esperar que as coisas aconteçam, distraiu-se recentemente num encontro com investidores chineses, ao afirmar que o país está diferente (para melhor) se comparado com 2011 - o ano da bancarrota e do pedido de resgate à Troika pelo governo de José Sócrates. 

A opinião pública sai confundida e o próprio interior do PS foi abalado, sendo convicção de muitos, que António Costa, considerado uma pessoa hábil nos apoios que reúne à esquerda, mas na prática, distinguindo-se pouco da direita, aliás, como é timbre dos socialistas, cá dentro e por essa europa fora, deu um tiro no pé, como se diz na gíria política. 

Confirma-se que os dirigentes do bloco central falam em função dos auditórios, para consumo interno ou externo, conforme as conveniências, e pior do que isso, prometem o paraíso antes das eleições, e lançam-nos no inferno assim que aportam ao governo. 

Para não ir mais longe, foi o que aconteceu com José Sócrates e com Passos Coelho. Mas voltando à questão de fundo - O país está melhor hoje do que em 2011? O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro não tem dúvidas. No início de 2014 deu uma entrevista ao Diário de Notícias e na ânsia da busca da originalidade, proclamou uma autêntica alarvidade: os portugueses estão pior, mas o país está melhor! 

Nesta ordem de ideias, as pessoas não existem, existem números e um conjunto de entidades a que se chama país. Para o deputado, que as pessoas estejam pior, não tem qualquer importância! É evidente que a realidade é trágica para os portugueses

As condições de vida deterioraram-se fortemente para a maioria esmagadora dos trabalhadores, empresários e população. A cegueira austeritária falhou. 

Os brutais sacrifícios infligidos aos portugueses para além da Troika conduziram à manutenção do défice orçamental acima dos 3% do Produto Interno Bruto, a dívida pública não pára de crescer à conta dos juros exorbitantes pagos à Banca e aos credores, revelando-se impagável nas condições atuais, mas sobretudo, a economia e o tecido empresarial definham, as desigualdades, a pobreza, a corrupção e os grandes escândalos grassam de forma visível, aprofunda-se a degradação do Estado Social (educação, saúde, segurança social), as mortes nas urgências hospitalares são a expressão máxima da crueldade e desumanidade, o desemprego mantém-se altíssimo, destruindo e infernizando a vida familiar, e o abandono da pátria por parte de mão-de-obra qualificada e jovem equivale às vagas emigratórias dos anos 60 do século passado. 

Atestar as melhorias do país pelo acesso com juros mais baixos aos sacrossantos mercados financeiros é redutor. Nem as famigeradas agências de rating confiam nas putativas melhorias nacionais, mantendo as notações ao nível do lixo. 

Em suma, é inacreditável que o máximo dirigente do partido da rosa, convergindo com a coligação de direita, diga em público que o país está melhor. Bem desejaríamos que assim fosse. Ninguém recusaria dar a mão à palmatória. Mas a realidade é adversa e negra, sendo duramente sentida no quotidiano dos portugueses.

Apostila 1No Algarve, e reportando-nos ao ano de 2013, 28% das empresas encontravam-se tecnicamente falidas (17% em 2007), quase 50% apresentaram prejuízos (29% em 2007).


Apostila 2 – Da consulta ao balanço do Programa Operacional Regional do Algarve (PO21) relativo ao anterior Quadro Comunitário de Apoio (2007-2013), nas Tipologias – Mobilidade Territorial (estradas, arruamentos, etc.) e Requalificação da Rede Escolar do 1.º Ciclo, deparamo-nos com facto insólito. O Município de Silves é o único dos 16 municípios da região do Algarve que não garantiu qualquer candidatura aprovada (investimento financiado à média de 65% a fundo perdido)! Perdeu-se oportunidade histórica e foi prestado um mau serviço ao concelho de Silves pela anterior maioria PSD, pois as carências nas áreas em causa, ainda são gritantes.


Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Março de 2015

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