quinta-feira, 28 de maio de 2015

Baralhar e voltar a dar

A Troika foi embora mas ainda continua por cá a infernizar a vida dos portugueses, através da imposição das suas políticas, zelosamente aplicadas pelos executores internos, obsessivamente, assentes na austeridade e empobrecimento, na fúria privatizadora, no ataque aos bens e serviços públicos e castração dos direitos dos cidadãos nas áreas do trabalho, saúde, educação e segurança social. 

Se em relação a quem nos (des)governa não há margem para dúvidas quanto ao futuro, anunciando-se corte de 600 milhões nas pensões e a manutenção em doses elevadas da austeridade, no que respeita ao PS e a António Costa, a apresentação recente do relatório ” Uma Década para Portugal”, redigido por  doze economistas próximos do partido, também nos alimenta a desconfiança, de que a alternativa não passaria de alternância, tais são as semelhanças entre ambas as forças políticas do bloco central. “Uma Década para Portugal” está muito mais à direita do PS do que seria de esperar” (João Pereira, Semanário Expresso, 25.04.15). 

A austeridade é para manter. As diferenças entre governo e o partido da rosa centram-se nos ritmos de redução da sobretaxa do IRS que representam menos de um quarto do brutal aumento de impostos perpetrado em 2013 (700 milhões em 3 200 milhões de euros), na redução da TSU para trabalhadores e empesas e na reposição mais rápida dos salários da função pública, mantendo-se até às calendas o congelamento das suas carreiras, o congelamento de pensões e a manutenção do fator de sustentabilidade e a idade da reforma. 

Uns e outros, prosseguirão com as privatizações. Uns e outros não tocarão nos privilégios e taxas de rendibilidade obscenas das parcerias público-privadas que sugam milhares de milhões de euros anuais aos contribuintes. 

De políticas económicas diferentes e necessárias ao aumento da produção nacional, à substituição das importações e ao incremento das exportações, no fundo a raiz estrutural do problema português, nem uma palavra

Mas a indefinição, a confusão e a desconfiança reforçam-se quando António Costa afirma que o relatório atrás referido não é uma bíblia para si, reservando-se o direito de aceitar umas medidas e orientações, e rejeitar outras, ao sabor das conveniências, a que se soma, as promessas lançadas em anteriores atos eleitorais, invariavelmente incumpridas, aplicando-se o contrário do prometido, ao chegar ao governo. 

E este comportamento tem sido extensivo aos dois protagonistas da cena política portuguesa. Em suma, torna-se pertinente questionar como é possível uma verdadeira alternativa à coligação de direita, aceitando-se completamente o quadro da Troika, as regras do Tratado Orçamental e o atual figurino do Euro que coartam a soberania nacional e nos colocam num autêntico “colete de forças”? É como tentar fazer a quadratura do círculo!

Apostila  – Com o pretexto da defesa dos princípios da coesão social e territorial, do aumento da eficiência e da sustentabilidade económico-financeira, o governo pretende efetivar a fusão e verticalização dos sistemas de água, forçar a alienação das redes de distribuição de água em baixa (geridas pelos municípios) aos sistemas em alta (geridos pela Águas de Portugal) para mais tarde facilitar a sua privatização. 

A ERSAR (entidade reguladora) é utilizada como “cavalo de Troia” junto dos municípios, obrigando-os a cumprir com as suas medidas sob pena de monstruosas sanções financeiras, mormente, na adoção de novo regulamento tarifário, condicionando-os também no acesso ao novo programa comunitário para investimentos no setor, violando grosseiramente a autonomia do Poder Local. 

A subida prevista nos tarifários para os próximos cinco anos é de mais de 14% no caso das águas residuais e de 24% na água para consumo. O acesso à água é um direito humano básico que deve ser assegurado por serviços públicos sustentáveis e de qualidade mas não é essa a opinião dos governantes que preferem proporcionar mais um negócio de milhões aos grandes grupos privados.


Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Maio de 2015





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