terça-feira, 28 de julho de 2015

Atropelos à gestão dos municípios

Os municípios portugueses são alvo de intromissões grosseiras por parte do governo que, na sua ânsia centralizadora e submissa para com a troika estrangeira, tudo quer controlar e condicionar a partir de Lisboa, visando a redução do défice orçamental e a prossecução de intuitos mercantilistas, não revelando confiança nos eleitos locais, nem se importando com a violação da autonomia do governo mais próximo dos cidadãos. 

À Lei dos Compromissos e dos Pagamentos em Atraso, de 2012, que impõe regras cegas e arbitrárias, independentemente do mérito ou do demérito de quem governa, da heterogeneidade geográfica, dos distintos quadros económico-financeiros e escalas de cada um dos municípios, juntou-se a imposição dos novos limites das despesas com o pessoal que são absolutamente absurdos e penalizadores de uma gestão autónoma, eficaz e eficiente. 

A grande maioria dos municípios portugueses não reúne condições para assegurar que as despesas com o pessoal e aquisição de serviços a pessoas singulares não ultrapassem 35% da média das receitas correntes dos últimos três anos. 

O dislate e desproporcionalidade da medida mede-se pela regra anteriormente em vigor que determinava que as despesas com o pessoal do quadro num dado ano, não podiam exceder 60% das receitas correntes do ano económico transato, a que acrescia as despesas com pessoal em qualquer outra situação (25% daquele limite). 

O município de Silves, em particular, confrontado com a impossibilidade de contratar pessoal, e possuindo margem financeira para o fazer, sobretudo, no setor operário (motoristas de pesados, canalizadores, cantoneiros, eletricistas, calceteiros, auxiliares de ação educativa, etc.), enfrenta severas limitações na capacidade de prestar serviço público de qualidade, resolver problemas básicos das populações e conceder apoio logístico significativo aos eventos organizados pelo movimento associativo. 

Dois exemplos: a autarquia silvense dispõe de 4 calceteiros para o concelho (!), enquanto, no setor do vasto parque de máquinas e viaturas, mantidas em estado operacional permanente, fruto de uma boa gestão, não existe número suficiente de motoristas para o operar (!). 

Os obstáculos referidos são frequentemente ultrapassados, inevitavelmente, e a contragosto, por intermédio das horas extraordinárias que também obedecem a limites legais e entram no cálculo das despesas com pessoal, e aos contratos de emprego e inserção (CEI) que são um mau exemplo dado pelo Estado português e autarquias no mercado de trabalho, por se tratar de vínculos precários (1 ano) que preenchem necessidades permanentes. 

Na antecâmara da política governamental que não é inocente, assente na ideologia neoliberal, encontra-se uma agenda política escondida, direcionada para a privatização do serviço público (água, saneamento, recolha do lixo, espaços verdes) e o recurso à contratação de serviços externos (“outsourcing”) que, importa denunciar - não deixará de ser financiada pela despesa pública e os contribuintes -, com a agravante das populações receberem um serviço mais caro e de pior qualidade. Esvaziando e liquidando o serviço público, não são necessários trabalhadores!


Finalmente, ainda no quadro específico do município de Silves, realço a importância da autorização prévia concedida pelos órgãos autárquicos para a contração de empréstimo bancário a longo prazo no valor de 4,4 milhões de euros para o financiamento de 17 investimentos distribuídos pelo concelho. Sumariamente, existindo margem legal de endividamento, conjugado com o facto de se reduzir em 70% (12,7 milhões de euros) o atual passivo financeiro do município até ao final do mandato autárquico 2014-2017, não se entenderia que assim não fosse. 

Através de uma boa medida de gestão, a autarquia potencia os recursos financeiros de maneira absolutamente sustentável, no sentido de levar a cabo um conjunto de obras fundamentais (algumas delas, na gaveta, e prometidas há largos anos) para a valorização do território e o bem-estar das populações. 


Publicado no Jornal "Terra Ruiva"
Edição de Julho de 2015

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